domingo, 15 de junho de 2014

Milton Simon Pires: Espíritos da escuridão

Quando assumiu a Presidência da República em 2003, o Partido dos Trabalhadores (PT) deu início a uma revolução no país. Não interessa aqui detalhar, minuciosamente, quais os aspectos desse processo. Interessa apontar qual sua “causa motora”, qual o seu anima, seu “princípio vital”, ou se quiserem, seu espírito. Afirmo, pois, que aquilo que movia o PT em 2003 em nada difere dos princípios da esquerda do século XX e aponto em primeiro lugar a ideia de que “começar do zero”, de “passar o país a limpo”, fez com que o PT considerasse velho, corrupto e ultrapassado tudo aquilo que o antecedeu na história política da nação. Tomado o poder, tudo precisava ser derrubado e reconstruído. Tudo havia que ser pensando novamente ou simplesmente inventado para um novo Brasil, para um “novo mundo sem medo de ser feliz”. O resultado disso, todos sabemos: não sobrou “pedra sobre pedra” (a não ser de crack) da cultura e do pensamento brasileiros. Nossa razão adoeceu, nossa capacidade de crítica sumiu e iniciou-se uma verdadeira época da escuridão, um período de mau gosto estético e de relativismo moral que permitiram ao partido-religião acabar para sempre com a ideia de oposição. O PT nunca teve ou terá oposição; tem inimigos – o conceito é completamente diferente.

Ainda que dentro da sociedade brasileira nunca tenha desaparecido por completo a percepção daquilo que o PT fez com a política, o mesmo não se pode afirmar com tanta segurança a respeito daquilo que ele fez com a cultura, daquilo que ele fez com a moral e com os mais simples conceitos de disciplina, hierarquia e decoro.

O dia 12 de junho de 2014, data da abertura da Copa do Mundo no Brasil, permanecerá – como diria Roosevelt – na história da infâmia, segundo os petistas. “Nunca antes na história desse país” 63.000 pessoas, ao vivo e numa transmissão para o mundo inteiro, disseram a um presidente da república aquilo que Dilma Rousseff teve que ouvir no Estádio do Itaquerão em São Paulo. Antes daquilo que ela escutou, ir ao estádio era “coisa do povo”, era uma alegria de brasileiro pobre que, tomando sua cervejinha de domingo, poderia ir ao Maracanã na realização do sonho socialista. Depois do que aconteceu, Lula vem a público dizer que no Itaquerão só havia “burgueses” e que foi da diferença de classes e do preconceito que partiram as ofensas à presidente.

Por uma questão de respeito ao leitor, não vou descrever o que o público disse à Dilma naquela tarde. Não me interessa saber a que classe pertenciam as pessoas que estavam no Estádio nem se havia ou não pobres entre elas. Interessa afirmar que a primeira mandatária do país e representante de uma organização criminosa que tentou comprar todo Congresso Nacional, que destruiu toda universidade brasileira, que recebe traficantes com honras de chefe de estado, que matou prefeitos e ameaçou juízes, que bateu em professores e importou médicos cubanos merecia e continua merecendo escutar aquilo que escutou.

O dia 12 de junho, presidente Dilma-Lula, há de entrar para História do Brasil e deixa aos senhores a duríssima lição, a inquestionável prova de que os senhores podem nos obrigar a votar, os senhores podem ter o dinheiro dos nossos impostos, podem nos processar e até mesmo nos prender, tirando a nossa liberdade, mas vocês jamais terão nosso respeito! Não podem ter do povo brasileiro aquilo que vocês mesmo tiraram dele: a capacidade de respeitar qualquer coisa, a simples noção de mérito e o princípio básico de respeito a cargos e instituições. Calem-se, pois, e não venham à imprensa com declarações que recordam as falsas virgens e que remetem aos pudores desconhecidos daqueles que arrancam crucifixos das paredes e se masturbam em público com a estátua de Nossa Senhora.

Mantenham-se, ordeno eu, todos os petistas, todos aqueles que aparelharam, roubaram, fraudaram e corromperam a sociedade brasileira, todos aqueles que atentaram contra a inocência da infância, que abusaram dos ideais da juventude e que exploraram a doença da velhice, em seu mais absoluto silêncio. Calem-se todos os que antes diziam que “a voz do povo é a voz de Deus” e que agora o peito inflam para falar em decoro, respeito ao cargo e educação ante as câmeras de tevê. Voltem todos vocês, seus malditos, ao lugar onde habitam os espíritos inferiores, os espíritos da escuridão.
Porto Alegre, 14 de junho de 2014.


Milton Simon Pires é médico.