sábado, 29 de outubro de 2011

David Coimbra: Quando o mundo muda

As pessoas estão insatisfeitas, a vida delas não vai bem. As pessoas querem lutar contra o que existe de errado no mundo, elas querem pegar o inimigo pelo pescoço, esse inimigo que tanto as incomoda. Só que elas têm dificuldade de saber quem, afinal, é o inimigo.

Chega a ser comovente. Aqui, no Brasil, as pessoas protestam contra a corrupção. Lá, no Exterior, as pessoas protestam contra a ganância. Corrupção e ganância, eis os inimigos identificados. Mas... protestar contra a corrupção e a ganância é como protestar contra a maldade.

É como se elas saíssem às ruas gritando: “Abaixo as doenças! Abaixo a decrepitude! Abaixo tudo o que existe de ruim no mundo! Chega de terremotos! Chega de mal-entendidos!”.

Contra o que, exatamente, os protestantes lutam? Onde é que estão os defensores da corrupção, que não se apresentam? Os protestantes não querem mais o capitalismo? Qual é a alternativa? O socialismo nunca deu certo, também no socialismo a ganância e a corrupção grassaram. E agora? Que mudança deve ser empreendida? É impossível voltar atrás, mas como ir para a frente? Tudo está tão confuso.

Ontem mesmo completou-se um mês da invasão do MST de uma área de pesquisa científica da Fepagro. Os sem-terra destroem experimentos enquanto as autoridades do Estado bocejam. Os sem-terra são os ludistas do século 21. Há exatos 200 anos, em 1811, os ludistas invadiam fábricas na Inglaterra, paravam o trabalho e quebravam os teares mecânicos.

Diziam-se liderados por um certo Ned Ludd, um operário que teria quebrado as máquinas da empresa em que trabalhava, no fim do século 18. Na verdade, tratava-se de um ardil dos rebeldes. Ludd nunca existiu, mas sua lenda servia para confundir a repressão. A polícia procurava Ludd em todo lugar e Ludd não estava em lugar algum.

Imagine, os ludistas destruíam as máquinas. Não como um protesto, mas porque, simplesmente, eles eram contra as máquinas. Diziam que as máquinas iam acabar com o seu meio de vida.

E tinham razão. A Revolução Industrial acabou com o meio de vida dos artesãos, assim como a informática acabou com o meio de vida de quem fabricava máquinas de escrever, assim como não há mais cocheiros, amas de leite ou damas de companhia.

As mudanças do mundo acabaram com tantas atividades, com tantos meios de subsistência, com tantas formas de viver. Experimentos agrícolas e veterinários, pesquisas com células-tronco e com transgênicos, a ciência em geral, bem como os movimentos naturais da sociedade e da economia, fazem com que o mundo mude.

O mundo está sempre mudando, mudou rapidamente inclusive durante os mil anos de duração da Idade Média. Não há o que fazer a respeito. A globalização é irreversível e o capitalismo, com a sua flexibilidade e capacidade de adaptação, é invencível.

Lutar contra a mudança, em vez de compreendê-la, não é teimosia: é obscurantismo. Só há uma maneira de enfrentar a mudança: mudar junto. Darwin já ensinou: quem não se adapta, se extingue.