sábado, 10 de outubro de 2009

Augusto Nunes - Só no Brasil, ladrão que rouba com o patrocínio do governo acusa o assaltado

O primeiro texto publicado nesta coluna, em 22 de abril, tratou de mais uma abjeção produzida pelo MST ─ a única organização fora-da-lei da história do Brasil patrocinada pelo Executivo, protegida pelo Legislativo e estimulada pela leniência do Judiciário. Dias antes, invasores de uma fazenda no Pará haviam acrescentado ao repertório de práticas bandidas o uso de escudos humanos.

De novo, fizeram o que quiseram e saíram quando quiseram, com a insolência dos contemplados com a cumplicidade, por ação ou omissão, dos três Poderes. Em vez da voz de prisão, em vez da voz enérgica dos encarregados de defender o Estado de Direito, em vez da voz do juiz anunciando a sentença, ouviram a voz companheira do chefe de governo.

Por tratar como caso de polícia o que era uma questão social, lembrou o parágrafo de abertura, o presidente Washington Luis antecipou a chegada à senilidade precoce da República Velha, enterrada sem honras pela Revolução de 1930. Por tratar como questão social o que é um caso de polícia, o presidente Lula continua a retardar a chegada à maioridade da democracia brasileira.

Os líderes do incipiente movimento operário do século passado, que apresentavam reivindicações elementares, não mereciam cadeia. Mereciam de Washington Luiz mais atenção. Chefões de velharias ideológicas como o MST, que berram exigências de napoleão-de-hospício enquanto aumentam a gigantesca coleção de crimes contra o patrimônio, não merecem as atenções que vivem recebendo de Lula. Merecem cadeia.

Sete meses depois das delinquências no Pará, o MST continua estuprando o direito de propriedade, o governo continua financiando os conglomerados de barracas de lona preta, o Congresso continua assassinando no útero CPIs concebidas para apurar ligações incestuosas entre os cofres do Planalto e os caixas da sigla, a população carcerária continua sem representantes do MST. Vida que segue. As imagens da invasão da exemplarmente produtiva Fazenda Santo Henrique, no interior de São Paulo, avisam que o bando está cada vez mais ousado.

Também informam que a Justiça tem uma chance das boas de revogar a suspeita de que o MST foi condenado à impunidade. “Vamos dar uma resposta à sociedade”, prometeu o delegado de Borebi, Jader Biazon. ”Alguns dos responsáveis pelo que aconteceu vão responder criminalmente”. O que aconteceu foi mais que outra invasão ilegal consumada por 250 famílias. Foi um assalto praticado por centenas de ladrões sem medo.

As cenas exibidas pela TV não mostram lavradores em busca de terra para o plantio. Mostram homens e mulheres arrasando laranjais, arrancando árvores pela raiz, depredando equipamentos agrícolas, roubando móveis, furtando aparelhos domésticos. “O que eles não puderam furtar eles destruíram”, resumiu o delegado de polícia, que já identificou sete criminosos.

O produto do assalto passou de R$ 3 milhões. “Levaram DVD, TV, rádio, roupas, sapatos, ferro de passar, o chuveiro, até lâmpadas e torneiras”, conta Silvana Fontes, 37 anos, cozinheira e faxineira da sede da fazenda. Casada há três meses com um vigilante da empresa, ela ficou sem muitos presentes quem nem havia desembrulhado.

Os culpados culpam inocentes. “Querem criminalizar o movimento”, repete sem ficar ruborizado Paulo Albuquerque, comandante do ataque. “Se destruíram alguma coisa, foi a Cutrale”. Pero Vaz de Caminha tinha razão: no Brasil, em se plantando, tudo dá. Até ladrão que rouba com o patrocínio do governo e acusa o assaltado.